terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Andando de patins

Fui no parque Ibirapuera esses dias.
Estava sentado, esperando meu amigo, enquanto lia um livro. Ao mesmo tempo em que lia, acabava observando o que acontecia ao meu redor. Minha atenção fica dispersa em lugares públicos, cada barulho chama por ela.
Tentava me concentrar na leitura. O local ajudava, estava na frente do MAM, sentado perto da marquise em reforma. Um lugar geralmente movimentado, mas por conta da reforma havia poucas pessoas, pouca movimentação.
No meio de minha leitura, ouvi alguém falando alto. Parecia um pai brigando com um filho. Ao me voltar para o barulho encontro, acho que um pai e acho que uma filha.
A filha estava tentando aprender a andar de patins. Estava com todos os equipamentos de proteção possíveis, capacete, luva, cotoveleira, joelheira.
Seu pai caminhava ao seu lado. Parecia bravo, falava para ela fazer de um jeito, de outro. Até que um momento ela parou e disse:
"Acho melhor esperar o ...."
Pela sua forma de falar, imaginei que fosse um professor. Seu pai continuava a falar alto, dizia coisas como "não precisa", "aí vc já tá andando" e a puxava pelo braço para ela continuar a andar.
Dizendo assim, até parece que seu pai a estava incentivando, mas não a estava.
A menina não era pequena, era gde, deveria ter uns 17 anos ou mais. Era nítido o seu medo de sofrer uma queda. Seus braços e pernas estavam rígidos, parecia uma boneca sem articulações. Diversas foram as vezes que jogou os braços para frente, para evitar de bater o rosto, o peito caso caísse. Suas pernas estavam trêmulas, seu corpo pendia para frente e para trás e deslisava mais pelos puxões do pai, do que pelos seus próprios impulsos.
Seu pai continuava mandando-a andar e puxava seu braço. Falava para ela mexer as pernas, dar impulso, mexer o corpo, qq coisa.
A menina tentava, mas o medo parecia tomar conta de seu corpo.
A menina permanecia ali, sendo puxada pelo pai, sendo empurrada por ele. E eu continuava olhando. Eles continuaram assim, até se distanciarem de mim. Nada pareceu mudar aquela situação e sabe-se desde de quando estavam naquela dinâmica.
Pensei na menina, estava aparentemente tão equipada, cheia de proteções pelo corpo, não conseguiria pensar em mais um equipamento para ela. Mesmo assim, parecia estar com muito medo, com o corpo travado.
Pensei em seu pai, tão rígido, sério e nada amoroso com sua filha. Mas que mesmo assim deve ter comprado tudo isso para ela.
Pena que seu pai e talvez nem ela percebessem que a proteção que a menina mais precisasse não tinha, a proteção de seu pai.

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