domingo, 30 de janeiro de 2011

Corpo que chama

Havia tempos que seu corpo gritava internamente.
"Chega", dizia ele, "Não aguento mais. Por favor, pára."
Ele não parou. Continuou, continuou, continuou.
Enquanto isso, corpo travava uma batalha consigo.
Suas pernas cresciam, seus braços pesavam, sua barriga não parava só pensava em arranjar mais espaço. Seu corpo pesava. Sentia a força em seus joelhos. Seus pés pareciam cada vez mais achatados.
Suas calças, cada vez mais apertadas. Sua respiração ofegante.
Estava mais difícil se locomover, se movimentar livremente como no passado.
Seu corpo ainda gritava. Agora chorava e pedia socorro. Não sabia mais o que fazer.
Até que por um instante ele pareceu ouvir aquele suplício. Seu corpo se espantou.
"Será que ele percebeu agora?", pensou.
Passou a mão sobre seu peito, sua barriga e sua perna.
Mas qdo foi que ficara daquele tamanho?
"Chega", pensou.
Seu corpo ouviu e se encheu de esperanças.
"Será que ele voltará a ser como antes? Vai me tratar melhor? Cuidar de mim?"
Seu corpo se aquietou. Queria apenas descansar.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Falta

Mãe, pai, sinto falta de vcs. Acho que sempre senti falta de vcs...
Me lembro de qdo era criança.
Lembro de brincar na rua, lembro dos meus amigos, das mil histórias que construía apenas com a cabeça sem precisar de bonecos, de instrumentos, usando apenas esse órgão tão gde e pesado que temos na nossa cabeça.
Mas todas as vezes que penso em vcs, minha lembrança me traz imagens vagas e tristes. Minha mente parece não querer ver, quer apagar o que se foi e construir com o que se tem.
No entanto, imagens ainda me perseguem, lembranças ainda me tocam num movimento de onda, me puxando, me arrastando, me virando e depois me trazendo de volta.
Não quero mais brigar com vcs, não quero mais vcs longe de mim.
Mas ainda dói, ainda é difícil.
Vcs têm suas limitações, eu tenho as minhas.
Talvez vcs nunca me entendam, assim como eu não entenderei vcs.
Mãe, pai, por favor, fiquem, não se vão,
Ainda sinto falta de vcs.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Reportagem

Éramos cinco dando uma entrevista para um curta. Não sabíamos mto bem o que seria exatamente o curta. Mas entendemos que era um trabalho para a prefeitura. Nem mesmo seus autores tinham certo para onde iríamos.
Mesmo assim concordamos em filmar, em dar nosso depoimento.
Estava nervoso, na verdade, estávamos todos. Dois tinham gravado antes de nós.
Mas o que dizer, o que falar? O que saber o que é importante?
E aquela câmera apontada para a minha cara como um bazuca. Um tiro de exposição do qual nem sei a dimensão. Só sei que seria grande.
Conversamos um pouquinho, tive algumas orientações. Mas foi ao sentar naquela cadeira com um microfone no pescoço. Td ficou branco em minha mente e só pensei nas pernas trêmulas. Algumas palavras saíram de minha boca, sem controle, sem direção.
Pararam algumas vezes para me ajudar a organizar e retornar para meu livro de vivências.
Falei de minha mãe, de meu pai. Assumi, expus, travei.
E no final, qdo td acabou, uma vontade repetir, de fazer melhor, de ser mais claro, grudou nos meus pés e não quis soltar.
Foi-se, perdi minha virgindade para as câmeras. Fiz o melhor que pude. Mas o desempenho da primeira vez sempre deixa a desejar...

domingo, 16 de janeiro de 2011

Sentados numa praça

"Será que algum dia esse mundo vai mudar?"
Eram dois jovens sentados em uma praça conversando ao por do sol. Refletiam sobre a vida, sobre o mundo.
Não gostavam do mundo em que viviam. Ele parecia mto patético, mto careta.
Diziam como tds estavam fúteis. O quanto a sua geração estava perdida.
Queriam um mundo melhor para se viver.
Um deles mais exaltado, condenava seus conhecidos, suas famílias. Condenava mtos a seu redor.
O outro permanecia mais calado, apenas observava o jeito que seu amigo falava. Achava engraçadinho todo aquele furor, todo aquele descontentamento.
Enquanto os dois conversavam. Um senhor passou e pediu uma informação. Queria ir até a farmácia mais próxima.
O jovem exaltado, logo levantou e explicou para o senhor o caminho.
Seu amigo olhou com uma cara estranha. Pensava consigo que naquele caminho não havia farmácia.
O senhor se foi e o jovem voltou a sentar.
"Mas naquele camin...."
E logo foi cortado novamente pela lamúrias de seu amigo, que no final perguntou.
"As pessoas são tão ignorantes, vc não acha?"

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Meninas que Brincam

Estavam no quarto de uma delas. Eram apenas algumas meninas brincando de imaginar o futuro.
Colocavam o cobertor sobre a cabeça e seguravam o travesseiro na mão. Em meio a sonhos e fantasias, os cobertores viravam véus e os travesseiros, buquês. Sonhavam com um casamento.
Riam e contavam detalhes sobre a cerimônia, a festa. Umas queriam casar na igreja, outras no campo, na praia.
Mas uma menina permanecia mais calada que as outras. Olhava para o entusiasmo das amigas e as invejava. Queria ser como elas.
Seus olhos permaneciam quietos, atentos aos movimentos a sua volta. De sua boca, às vezes escapava um "Eu Também!". Tinha vontade de falar. Seus corpo ficava inquieto, era seu sonho subindo.
Mas sempre ele parava no meio do caminho. Não falava. Tinha medo.
E em meio aquele mar de contos de fada. Em meio a tantos sonhos e desejos. Aquela menina sentia-se só, queria chorar. Mas nem isso parecia permitido.
Controlava-se da maneira que podia. Seus olhos às vezes ficam marejados. Baixava a cabeça, enxugavo-os no travesseiro, desviava.
Pensara no seu futuro. Perguntava-se se algum dia poderia sonhar como suas amigas.
Olhou para sua boneca. Colocou o cobertor na cabeça dela. Imaginou uma noiva linda com um belo vestido de princesa. E por um momento sonhou e sorriu.
Quem sabe um dia não poderia ir para um reino encantado e encontrar uma princesa como aquela?

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Amor que não se pode dizer o nome

Era uma noite fria de sexta-feira. Sempre juntos, andávamos pelas ruas de uma cidade que não descansa.
Uma rua e tudo parou. Meu tempo parou, o seu acabou.
Não precisaram de mto para levar vc de mim. Enquanto meu corpo caía sobre a calçada. Via vc me defender. Vi vc oferecer a sua vida pela minha.
Apenas senti uma pontada nas costas e o resto do meu corpo foi-se ao chão. Caí devagar.
Seu rosto sujo de sangue foi minha última lembrança.
Levaram vc de mim e me fizeram olhar enquanto partia.
Levaram vc com ódio. Justo vc que tanto amou.
Levaram vc na covardia. Sua coragem para nos amar não nos protegeu.
Levaram vc de mim, desse mundo.
Mas ainda sinto sua mão em meu peito para me acalmar. Sinto sua mão na minha testa para me proteger. Sinto seu abraço apertado que me dava toda manhã e toda noite, com um suspiro em meu ouvido.
Eles podem ter levado vc, mas jamais tirarão vc de mim.